"mochila às costas..."

hoje foi a missa dos finalistas no colégio. O Zé Miguel, o Tiaguito, a Pingas e a Filipa escreveram estes textos para a entrega de 4 símbolos no ofertório: um cajado, umas botas, uma seta amarela, e uma mochila.

estas palavras não são minhas mas dizem-me da mesma forma que me dizem os abraços que eles me dão.

...

"o cajado
Senhor,
Este é o cajado dos nossos Caminhos, símbolo do apoio em subidas e descidas, testemunho de momentos de cansaço, solidão, lágrimas, mas também de sorrisos, alegrias e incentivos.
Este é um dos objectos que nos ajuda a “agarrar” o Caminho, a sentir o poder dos últimos passos até à Catedral até à Catedral e a entender que esse momento é apenas “um detalhe” final de uma Lição de Vida.
No Caminho de Santiago deparamo-nos com os nossos horizontes e com as nossas fronteiras, descobrimos o valor das pequenas coisas que nos escapam no Caminho da Vida, crescemos, enriquecemo-nos, valorizamo-nos. No Caminho perdemo-nos, encontramo-nos, envolvemo-nos numa experiência inesquecível e indizível.
Tal como este objecto, também Tu, Senhor, és Aquele que nos apoia, tantas e tantas vezes, para descansar o peso da “mochila”, do corpo, da alma...
Obrigado Senhor por seres muitas vezes o cajado da nossa Vida!



as botas

Com estas botas percorri seis caminhos de S. Tiago. Nunca as usei para outros caminhos, e em todos eles encontrei espaços de reequilíbrio, pessoas com quem partilhar um bom dia, com quem partilhar um abraço ou algo mais puro ainda. Tenho muitas saudades desses dias em que uso estas botas.
Despeço-me deste colégio em que as expectativas são enormes, onde perdemos muitas vezes o verdadeiro caminho da aprendizagem.
A caminho pelos bosques da Galiza aprendi continuamente a caminhar e vi cada um a superar-se tornando possível o sonho de sermos pessoas melhores. Chego aqui como se fosse um pássaro e estas botas as minhas asas.

Não me sinto, ainda, preparado para voar do colégio, torna-se difícil pensar noutros caminhos e noutros companheiros. Como diria o Zé Rui, espero profundamente que este sentimento de perda seja relativizado pela vossa presença em mim, pela minha presença em vós e pela de Deus em nós.
O resto não se diz, nem se tenta dizer.
Vemo-nos a caminho (despretenciosamente como peregrinos).



a seta

A seta é como o farol para as pequenas embarcações que anseiam por um porto de abrigo.
Ela guia-nos, peregrinos da vida, na busca do Teu Caminho, na procura de um local onde algo indescritível se apodera dos olhos que nos rodeiam, onde uma luz fortíssima emana de cada rosto.
É este pequeno símbolo do Caminho que nos convida a seguir em frente, mesmo quando as dores sufocam a alma e impele cada um de nós para a praça do Obradoiro, praça que brilha de uma forma intensa no momento da chegada.
A seta ajuda-nos a caminhar na graça, a procurarmos os outros e a partilharmos cada Caminho com eles. Foi o que todos fizemos durante estes três intensos anos.
Permite Senhor, que ela nos indique o sentido a tomar perante os difíceis e sinuosos trilhos que iremos encontrar ao longo da nossa vida.



a mochila
[entrego esta mochila]
dentro dela trago os meus sonhos, utopias e ilusões. É aquilo que me dá a forma humana e alimenta o meu pensamento.
Guardo-a com toda a minha força e rezo cada dia que passa para não a perder. É nesta mochila que guardo as minhas lembranças, lições, lágrimas e sorrisos... nela guardo memorias, com muitos ou poucos momentos.
Nasce connosco, vê-nos crescer, ajuda-nos a viver... partilhamos com ela a nossa intimidade... partilhamos um gesto condescendente com a morte.
O caminho ajudou-me a dar-lhe um novo significado... Não serve simplesmente para levar objectos... ela é a testemunha de cada passo que dou, de cada lágrima que cai, de cada palavra que digo, do silêncio que me acompanha até Santiago... Foi com ela que aprendi a caminhar, pela vida fora; aprendia a calcar a terra com a firmeza de um ser humano e a sentir o ar com a humildade de um peregrino. Com ela falo através de um alfabeto de silêncios e com uma fugacidade tão própria da juventude.
Daqui a uns anos vou continuar a ter uma mochila ao meu lado... cheia de momentos como este e pronta a acompanhar-me para onde a vida me levar."