desenvolvi uma relação curiosa com a D. Cândida, a Senhora que faz a limpeza cá em casa.
chega às oito da manhã, e quando me encontra é sempre de fugida. raramente conversamos, porque ainda fico encabulado por pensar que ela mexe em todas as minhas coisas.
regresso, tarde na noite, com a D. Cândida ida há já muitas horas, a uma casa impecavelmente limpa e cuidada.
forçou-me, no entanto, a criar alguns rituais para esses dias:
mal entro, coloco o Cristo deitado (tenho um Cristo lindíssimo que a minha mãe me trouxe da Polónia, e acredito que ela pense que se nosso senhor não estiver a ver as vistas fica triste).
depois, procuro o carregador do telemóvel (que todas as vezes tem um sitio novo. Há, aliás, algures cá em casa, um carregador que ainda não consegui encontrar).
finalmente, o último ritual, é o de encontrar e encher uma garrafa de vidro com água que deixo sempre no quarto em cima da mesinha de cabeceira, debaixo de um pequeno pano de linho que a minha mãe me ofereceu. ao chegar ao quarto, tiro o candeeiro - que a D. Cândida acha que deve ficar em cima do pano e milimetricamente centrado na mesinha - arrumo-o para o lado e ponho a garrafa no pano. (claro que eu acho excelente que ela lave a garrafa. o que ainda não entendi é porque não a recoloca no quarto, mas a guarda religiosamente num qualquer (e quase sempre diferente) armário na cozinha.)
hoje, como sempre, entrei... e o cristo estava deitado!
fico receio que isto seja alguma forma de chantagem psicológica. que ela esteja apenas a tentar que eu me desabitue de o colocar deitado...
talvez para a próxima lhe troque eu as voltas, e ponha o Cristo de pé ou mesmo a garrafa na cozinha, escondida num qualquer armário...
ela vai ver...
2 comentários:
São pensamentos interessantes que todos que têm uma "D. Cândida" partilham. Mas a melhor mesmo é a do tabuleiro ;).
lol os chamados jogos psicológicos...
Acho que todos têm ou tiveram uma D Cândida algures na sua vida. É Universal :)
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