conheci a Becas por volta de 1991. eu tinha 17 e ela 27. chamava-lhe Maria de Lourdes - o seu nome - apenas porque me disse que ninguém o fazia. cantou comigo durante uns anos, e partilhamos muita música durante muitos mais. lembro-me da primeira vez que me abriu a porta de casa dela, e nos sentamos à sua mesa. a Becas era, entre muitas outras coisas uma cozinheira exímia. Era, acima de tudo, uma Mulher com todos os atributos que as mulheres a sério sabem ter e sabem Ser. lembro-me de pensar muitas vezes que ela podia voar muito alto se não estivesse presa a um marido que nós mais próximos notávamos que não amava, e à sombra de um pai que, embora há muito falecido, ela admirava mesmo sentindo que a cerceou. de uma generosidade imensa, e uma frontalidade maior, ajudou-me a crescer, com outros amigos que, também mais velhos, eu sei terem sido fundamentais no meu caminho. e caminhei muito perto dela quando se libertou do marido e pode ser tudo o que era, com as dificuldades inerentes de ser mãe-família uniparental.
a Becas está hoje em morte cerebral, resultado do AVC que teve na quarta feira, aos 45 anos.
estou sem palavras.
espero reencontrá-las quando a reencontrar em Sião...
2 comentários:
Força!
Não pode deixar de ficar indiferente ao seu texto...
O meu avô também sofreu um AVC... Aguentou 11 anos, no sábado faz 2 anos que faleceu. E sei que ele não merecia o que lhe aconteceu, aliás ninguém o merece.
Tal como a Sara disse: "força!"
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