lectio

sempre me desgostou a palavra lição, pois deriva de lectio, [que tem também a ver com a inglesa lecture] e que reporta ao tempo em que as lições, as aulas, eram palestras. o Doutor falava e os ouvintes/alunos ouviam.
talvez por não gostar da lectio não desenvolvi esse incrível dom de falar muito tempo sobre um assunto, o que leva a que simplesmente não o faça. e talvez por não o fazer não desenvolvo o dom e o gosto.
prefiro pensar em mim mais como dialogante do que discursivo, e nas minhas aulas como espaço de diálogo, em que o discurso, embora presença imprescindível é colocado em segundo plano, o que, felizmente, a minha disciplina permite. podia dizer-se que opto pelo caminho mais fácil, embora a experiência [que de aulas é curta, mas de encontros e gestão de grupos é já de 18 anos] me faça sentir o contrário: se preparo o meu discurso em casa e o sigo à risca não preciso de lidar com imprevistos. se preparo apenas o diálogo, exponho-me obrigatoriamente a que não necessariamente concordem comigo.

hoje as minhas aulas foram assim. um diálogo. quer a do 12º, quer a do 7º, quer a do 8º. e saí de lá a sentir que tinha sido ouvido tanto quanto ouvi. que tinha sabido fazer as perguntas necessárias que eles fizessem a si próprios. senti que dei passadas largas com eles, e que fizemos caminho sério e verdadeiro. senti que hoje fui importante para eles precisamente por ser "o idiota que se farta de lhes fazer perguntas", como dizia há dias a uma turma do 11º ano. já não o sentia há muito tempo, e fez-me bem. ajudou-me a perceber o valor do meu trabalho o que, frequentemente, pela pressa dos dias, não é fácil...

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